A representatividade feminina na política é um tema de grande relevância e impacto social. Embora as mulheres sejam a maioria da população brasileira, ainda ocupam uma parcela reduzida dos cargos políticos. Essa desigualdade não é apenas uma questão numérica, mas reflete um histórico de exclusão e dificuldades que precisam ser superadas para garantir uma democracia mais justa e igualitária.
A presença de mulheres na política vai muito além da equidade de gênero; trata-se de garantir que as decisões tomadas nos espaços de poder contemplem as reais necessidades da população como um todo. As mulheres trazem perspectivas únicas sobre temas como saúde, educação, segurança e assistência social, áreas que frequentemente impactam suas vidas de maneira mais direta. Sem essa representatividade, políticas públicas correm o risco de serem formuladas sem considerar as demandas específicas das mulheres, perpetuando desigualdades históricas.
Apesar dos avanços conquistados nas últimas décadas, como cotas partidárias e incentivos à participação feminina, a política ainda é um ambiente predominantemente masculino, marcado por desafios como a desvalorização do trabalho das mulheres, a falta de apoio partidário e, muitas vezes, a violência política de gênero. Muitas candidatas enfrentam dificuldades para obter financiamento e visibilidade em campanhas eleitorais, o que reduz suas chances de serem eleitas. Além disso, quando conseguem ocupar cargos públicos, frequentemente são alvo de ataques que questionam sua competência, algo que raramente ocorre com políticos homens.
A sub-representação feminina na política não é um problema exclusivo do Brasil. Em diversos países, as mulheres ainda lutam para conquistar mais espaços nos parlamentos e nos governos. No entanto, exemplos internacionais mostram que sociedades com maior equilíbrio de gênero na política apresentam avanços significativos em áreas como igualdade salarial, combate à violência doméstica e acesso a direitos básicos. Isso reforça a importância de incentivar a participação feminina em todas as esferas de poder.
Para mudar esse cenário, é essencial que haja um esforço coletivo, tanto do governo quanto da sociedade. Medidas como o fortalecimento das políticas de cotas, o combate à violência política e a criação de programas de incentivo para mulheres que desejam ingressar na política são fundamentais. Além disso, é preciso desconstruir a ideia de que a política é um espaço masculino, estimulando desde cedo o engajamento feminino nesse meio.
A luta por mais mulheres na política não é apenas uma questão de representatividade simbólica, mas sim de justiça social e fortalecimento da democracia. Quando há mais diversidade nos espaços de decisão, as políticas públicas tendem a ser mais inclusivas e eficazes. Garantir que as mulheres tenham voz e poder na política é um passo fundamental para construir uma sociedade mais igualitária, onde todos, independentemente do gênero, possam participar ativamente das decisões que moldam o futuro do país.
A importância da representação feminina na política também pode ser analisada a partir das ideias de diversos pensadores e teóricos da filosofia, sociologia e ciência política. John Stuart Mill foi um dos primeiros pensadores liberais a defender a participação das mulheres na política. Em sua obra A Sujeição das Mulheres (1869), ele argumenta que a exclusão feminina dos espaços de poder não tem base racional e prejudica o desenvolvimento da sociedade. Para Mill, a igualdade de direitos políticos era essencial para o progresso social, pois mulheres e homens deveriam ter as mesmas oportunidades de influenciar decisões públicas.
Em O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir analisa como as mulheres foram historicamente colocadas em uma posição de submissão, o que também se reflete na política. Segundo ela, a falta de representatividade feminina nos espaços de poder perpetua a ideia de que a política é um campo masculino. Para combater essa desigualdade, seria necessário romper com os papéis de gênero impostos pela sociedade e garantir que as mulheres tenham condições reais de participação.
Hannah Arendt defendia que a política deve ser um espaço plural, onde diferentes vozes possam se manifestar. Em A Condição Humana (1958), ela destaca a importância da ação e do discurso público para a construção de uma sociedade democrática. Aplicando essa visão à questão da representatividade feminina, pode-se afirmar que a ausência das mulheres na política enfraquece a democracia, pois limita a diversidade de perspectivas necessárias para a tomada de decisões justas.
Judith Butler, em Problemas de Gênero (1990), questiona a construção social do gênero e como isso influencia as relações de poder. Para ela, a política reflete e reforça normas de gênero que excluem as mulheres e outras minorias. A representatividade feminina, segundo essa visão, não é apenas uma questão de número, mas de transformar a forma como a política é feita, desafiando estruturas que tradicionalmente favorecem os homens.
Pierre Bourdieu, em A Dominação Masculina (1998), explica como as mulheres são excluídas dos espaços de poder devido a um sistema simbólico que naturaliza essa exclusão. Ele argumenta que o domínio masculino na política é resultado de uma construção social que precisa ser desconstruída para que as mulheres possam exercer plenamente sua cidadania e influência nas decisões políticas.
Assim, a representação feminina na política não é apenas uma questão de justiça social, mas uma condição essencial para a construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva e equitativa.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel em Teologia e Ciência Política, com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes
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